Genética forense: usando DNA para resolver crimes

Detetive ilumina uma cena escura com uma lanterna
Sequências únicas presentes no DNA de cada um de nós podem ser usadas para inocentar suspeitos e para identificar os culpados de um crime

Em 1986, Richard Buckland confessou o assassinato de uma adolescente no Reino Unido. A polícia estava certa de que o autor deste crime também havia tirado a vida de outra jovem três anos antes, mas Buckland negou o envolvimento no segundo caso. Desconfiados de que ele estava assumindo a culpa por outra pessoa, os policiais empregaram uma nova técnica para resolver o mistério: a genética forense.

Para isso, especialistas coletaram o DNA de mais de 4 mil homens que moravam na região onde os crimes aconteceram. Após as análises, eles descobriram que as amostras de Colin Pitchfork eram idênticas às achadas na cena do crime. Assim, Pitchfork foi preso, confessou os crimes e se tornou a primeira pessoa condenada por assassinato com base em evidências genéticas.

Desde então, a genética forense continua auxiliando na resolução de crimes, cada vez de forma mais precisa. Ao comparar material genético encontrado em cenas de crimes com o de pessoas suspeitas ou com uma grande base de dados, é possível tanto encontrar um culpado quanto inocentar quem não estava envolvido. 

Marcadores moleculares

Até o início da década de 1980, a ciência forense não era capaz de identificar o culpado de um crime como hoje. As análises, até então, eram baseadas em tipos sanguíneos e em algumas poucas proteínas presentes no sangue, que são compartilhadas por grande parte da população. Desta forma, seria possível inocentar um suspeito de tipo sanguíneo AB se o culpado tivesse o tipo O, por exemplo. Mas identificar o autor de um crime era tarefa praticamente impossível!

Isso mudou em 1984, quando o geneticista britânico Alec Jeffreys descobriu que nosso genoma contém regiões nas quais há sequências de letras que se repetem consecutivamente dezenas ou até centenas de vezes. Apesar da sequência geralmente ser a mesma em todas as pessoas, o número de vezes que ela se repete varia imensamente na população.

Três pessoas, cada um com um DNA diferente.

Jeffreys percebeu que essa informação genética poderia ser usada para identificar pessoas, como um tipo de marcador molecular. Assim, cientistas forenses puderam, pela primeira vez, criar perfis genéticos tão específicos que apenas gêmeos idênticos poderiam ser confundidos. A probabilidade de duas pessoas não relacionadas terem o mesmo perfil é de menos de uma em um trilhão.

A descoberta de Jeffreys também marcou um grande avanço na ciência forense porque antes as análises geralmente precisavam de amostras de sangue. Marcadores moleculares presentes no DNA, porém, permitem o uso de qualquer tecido ou secreção para identificar uma pessoa. Assim, um pouco de saliva encontrada em um copo ou algumas células de pele deixadas pelo toque em uma superfície, por exemplo, já seriam suficientes para descobrir o perfil genético de quem esteve ali. 

Atualmente, os marcadores usados pela genética forense são chamados de STRs (da sigla em inglês para Short Tandem Repeats). Essas sequências são parecidas, mas não as mesmas, que aquelas descobertas por Jeffreys. As STRs são menores, mas igualmente variáveis entre diferentes pessoas. 

Genética forense: resolvendo casos em todo o mundo

Com a comprovação científica de que a genética forense era extremamente precisa, governos de países ao redor do mundo começaram a utilizá-la para resolver crimes. Nos Estados Unidos, por exemplo, a lei DNA Identification Act de 1994 autorizou o FBI a criar uma base de dados genéticos chamada de CODIS (da sigla em inglês para Combined DNA Index System). 

Assim, quando material genético é encontrado em uma cena de crime, policiais podem ter acesso ao sistema para identificar um culpado ou inocentar um suspeito. O CODIS tem hoje cerca de 14 milhões de perfis genéticos baseados em STR, e já ajudou investigadores em mais de 520 mil casos.

Desde 2012, o Brasil também possui o Banco Nacional de Perfis Genéticos, implementado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública. No mesmo ano, a Lei de Identificação Criminal possibilitou a identificação criminal genética, em casos concretos, a critério das autoridades judiciárias. Desde então, mais de 6500 perfis genéticos foram acrescentados ao banco de dados, e mais de 550 investigações foram auxiliadas por eles.

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