Conheça o povo capaz de permanecer submerso por até 13 minutos e descubra como eles atingem esse tempo.
Em geral, uma pessoa consegue prender a respiração embaixo d’água por pouco mais de um minuto. Já os bajaus mergulham em profundidades maiores de 70 metros e permanecem sem respirar por até 13 minutos.
Mais de 1 milhão de pessoas fazem parte do povo bajau, uma etnia do Sudeste Asiático. Eles são nômades que vivem em barcos-casa nas águas do Sul das Filipinas, Indonésia e Malásia. Em seus mergulhos, obtêm alimento e peças para artesanato.
É claro, manter-se em apnéia é uma habilidade que pode ser treinada (mas vale lembrar: não tente isso sozinho!), e existem até esportes de mergulho em apnéia. No início deste ano, o mergulhador croata Budimir Šobat bateu o recorde em apnéia estática com a marca de 24 minutos e 33 segundos.
Mas será que a capacidade de longos mergulhos desses “nômades do mar” foi resultado de muito treino?
Órgão para dar o fôlego
Nosso corpo sofre diversas mudanças quando prendemos a respiração e submergimos nossa cabeça. As respostas envolvem algumas alterações fisiológicas: diminuição dos batimentos cardíacos, reduzindo o consumo de oxigênio; constrição dos vasos sanguíneos nas extremidades, redirecionando o fluxo para os órgão vitais; e a contração do baço.
O baço, aquele órgão que ninguém costuma dar muita bola e não sabe bem o que ele faz, é que dá o fôlego extra nessa hora. Em condições normais, o baço faz a filtragem do sangue, recicla hemácias velhas e armazena glóbulos brancos. Na hora do aperto durante o mergulho, é ele que se contrai e libera mais hemácias no sangue, aumentando a quantidade de oxigênio disponível.

Porém, um fato chamou a atenção da pesquisadora Melissa Ilardo, autora principal do estudo publicado na revista Cell: o baço dos bajaus mergulhadores eram do mesmo tamanho do baço dos não-mergulhadores. Ao comparar o tamanho do baço dos bajaus, com o baço dos saluans – um povo vizinho e agrícola-, verificaram que o baço dos bajaus era, em média, 50% maior.
Esses foram os indícios de que as adaptações do baço dos bajaus para o mergulho não estavam relacionadas a treino, mas a fatores genéticos comuns àquele povo.
Seleção Natural: o DNA por trás da adaptação
O estudo então comparou o genoma de bajaus, saluans e chineses han e encontrou mais de 25 variações genéticas que eram mais frequentes nos bajaus. Entre os achados, uma alteração no gene PDE10A explicava o tamanho maior do baço dos bajaus.
Os bajaus dependem do mergulho para obter alimento, e vivem dessa forma há mais de 1.000 anos. O estudo mostrou que as variações genéticas se espalharam nos bajaus por Seleção Natural, à medida que proporcionaram um reservatório maior de hemácias e, consequentemente, maior oxigenação durante o mergulho.

Mergulhando como os bajaus O ritual de mergulho dos bajaus não é decorrente apenas das variações genéticas. Há também cultura e inovações técnicas: os bajaus mergulham utilizando apenas uma máscara ou um par de óculos de natação feitos de madeira. Às vezes usam também um cinto com pesos para ajudar a diminuir a flutuabilidade do corpo e carregam um arpão para a pesca. Durante um dia de trabalho, passam mais de 60% do tempo debaixo d’água, em mergulhos que podem levar de 30 segundos a vários minutos. |
A tolerância à hipóxia (baixa concentração de oxigênio) já foi também estudada em populações que vivem em grandes altitudes no Tibete. Nesse caso, os tibetanos receberam suas variantes genéticas dos Denisovanos.
Entender a tolerância em situações de baixa concentração de oxigênio pode proporcionar novas descobertas para o campo da medicina que encontra situações de hipóxia fisiológica, como por exemplo em tratamentos de pacientes intensivos e que sofrem de apneia do sono.
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