Muito antes do episódio da chegada dos europeus à Terra de Vera Cruz, em 1500, popularmente chamado de descobrimento, outros povos já haviam chegado ao território onde hoje é o Brasil. O crânio de Luzia, um dos vestígios mais antigos de Homo sapiens já encontrados no continente americano, é mais uma prova disso.
Estudos a partir do DNA extraído de fósseis com mais de 10 mil anos tentam revelar quem foram, como viveram, de onde vieram e como chegaram aqui os primeiros brasileiros. Essas análises ajudam a descobrir e explorar a ancestralidade do povo indígena na América do Sul.
Povoamento das Américas
Cálculos demográficos estimam que havia entre 1,5 milhão e 5 milhões de indígenas vivendo no território que seria chamado de Brasil quando chegou a expedição portuguesa liderada por Pedro Álvares Cabral. Mas a origem exata desses nativos ainda é objeto de pesquisas.
As hipóteses sobre o povoamento das Américas só encontraram provas mais concretas depois dos anos 2000, quando começaram a ser feitas as primeiras análises genômicas de fósseis encontrados no continente. Graças a esses estudos, hoje é possível ter mais informações sobre as primeiras migrações ocidentais.
Análises do DNA extraído de fósseis revelaram que todos os nativos americanos descendem principalmente de uma migração que atravessou o estreito de Bering (entre Rússia e Alasca), hoje submerso, há cerca de 20 mil anos. Alguns milênios depois, há cerca de 16 mil anos, essa população se dividiu em dois grupos e ocupou toda a extensão do continente em uma velocidade até então inédita.
Depois de atravessar os mantos de gelo que havia no noroeste americano, os povos primitivos demoraram poucas centenas de anos para estarem presentes nos dois lados das montanhas dos Andes e também no Sul do continente, na região onde se localiza o Brasil. E esses primeiros habitantes povoaram até mesmo ambientes muito distintos, como planícies e desertos.
A partir da paleogenética, cientistas tentam justificar descobertas recentes sobre fósseis com mais de 10 mil anos e que compartilham características cranianas. Foram observadas semelhanças entre o material genético encontrado nos EUA e no Brasil, mas apenas alguns esqueletos brasileiros tinham vestígios do DNA de povos australo-asiáticos.

A primeira brasileira: Luzia! (Até então)
O esqueleto mais antigo do Brasil foi encontrado em 1975, dentro de uma gruta localizada em Lagoa Santa, a 35 quilômetros de Belo Horizonte. O crânio foi encontrado em uma camada geológica datada de cerca de 11 mil anos, por isso, passou a ser o fóssil mais antigo do Brasil e das Américas.
Em 1998, o biólogo, antropólogo e arqueólogo brasileiro Walter Neves batizou o esqueleto de Luzia, em referência ao mais antigo fóssil humanoide já encontrado, chamado Lucy. Após a descoberta de outros fósseis com pelo menos 10 mil anos, a região virou um importante sítio arqueológico chamado Lapa do Santo.
Pela projeção, o grupo de Luzia teria atravessado o Estreito de Bering entre 14 mil e 15 mil anos atrás, para depois migrar para a América do Sul. Contudo, a teoria mais aceita na época era de que o primeiro povoamento do Homo sapiens no continente americano tivesse sido há menos tempo, a partir de fósseis encontrados nos EUA na década de 1920.
De valor científico inestimável, o crânio estava, junto ao busto reconstruído, no Museu Nacional, que sofreu um incêndio em 2018. Apesar da grande maioria do acervo ter sido destruído pelo fogo, 80% dos fragmentos do crânio de Luzia foram identificados e levados para um laboratório, para serem analisados e possivelmente remontados.
Para cientistas, extrair o DNA de Luzia é essencial para ajudar a desvendar o mistério do povoamento das Américas. A solução para desse mistério pode ser extrair material genético de superfícies onde não há mais restos mortais, mas existe a evidência de atividade humana, como artefatos manufaturados. Esse material, também chamado de DNA ambiental, pode também ser coletado, por exemplo, em vestígios de uma fogueira de até 48 mil anos encontrada no Piauí.

Ameríndia ou Negróide?
De acordo com estudos de datação, Luzia viveu há mais de 11 mil anos, tinha cerca de 1,50m de altura, vivia da caça de animais de pequeno e médio porte e da coleta de recursos vegetais da região, e morreu aos 20 anos de idade.
Já a aparência dela foi descrita como de “traços negróides”, com pele escura, nariz largo e olhos arredondados. A reconstituição do rosto foi feita por pesquisadores da Universidade de Manchester em 1999, usando o formato do crânio como base.
O fato de Luzia possuir traços negróides poderia comprovar o povoamento das Américas diretamente a partir dos primeiros humanos da África e da Austrália. Mas essas projeções foram confrontadas depois que um estudo genético, feito em fósseis encontrados na mesma região, apontou outro resultado.
Ao contrário dos marcadores de ancestralidade ou origem geográfica baseados no formato do crânio, os estudos de DNA não mostraram nenhuma conexão entre o povo de Lagoa Santa e grupos da África ou Austrália, mas uma genética “totalmente ameríndia”.
De acordo com um dos coordenadores do estudo, o arqueólogo André Menezes Strauss, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, mesmo os primeiros brasileiros já tinham traços generalizados e indistintos. A partir deles, a diversidade ameríndia teria se estabelecido ao longo de milhares de anos.
Como o busto de Luzia foi perdido no incêndio do Museu Nacional, uma nova reconstrução vai poder apresentar ao mundo um novo rosto, mais autêntico, da primeira brasileira que temos notícia. E mais uma vez a ciência tenta reescrever a história humana a partir do que o DNA diz.
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