O que é epigenética?

Conheça mais sobre a área da Biologia que estuda mudanças genéticas que não envolvem alterações no DNA, mas que podem ser hereditárias

A partir da descoberta do DNA e de sua estrutura, aprendemos muito sobre o funcionamento do nosso corpo. Sabemos hoje que o material genético de todos os humanos é 99,9% igual, e que variações genéticas no 0,1% restante são responsáveis por praticamente todas as diferenças entre nós. 

“Praticamente” porque o ambiente em que nos desenvolvemos e crescemos, e nossos hábitos ao longo da vida, também interferem nas nossas características. As mudanças na musculatura de uma pessoa que faz exercícios físicos regularmente, por exemplo, não são genéticas. Ou seja, elas não são passadas para a próxima geração: seu filho não nascerá mais musculoso se você se exercitar mais ao longo da sua vida, não é mesmo?

Mas, já há algumas décadas, cientistas estudam porque algumas células do nosso corpo funcionam de forma diferente, apesar de terem o mesmo DNA. A resposta está nos genes. Mesmo sem alterar a sequência do DNA, eles podem estar ativos em algumas células e silenciados em outras. Esse é um processo natural, no qual o comportamento dos genes é copiado e passado para as próximas gerações de células, sendo assim hereditário. Essa é a área da epigenética.

Genes x Ambiente

O termo epigenética foi cunhado pelo biólogo Conrad Waddington na década de 1940 para se referir à relação entre os genes e os seus efeitos nas características de uma pessoa ou de uma população. Essa definição, porém, mudou bastante até os dias de hoje. Na década de 1990, a palavra passou a significar mudanças no comportamento de genes que não estão relacionadas a alterações no DNA.

Nosso DNA contém milhares de genes. Mas, em cada tipo de célula, apenas alguns genes estão ativos, enquanto outros estão silenciados. E, mesmo aqueles que estão ativos podem ter sua função regulada para trabalharem mais ou menos.

Cada órgão possui um tipo especializado de célula. Os genes que estão ativos em cada célula determina suas características e funcionamento.
Cada órgão possui um tipo especializado de célula. Os genes que estão ativos em cada célula determina suas características e funcionamento.

A epigenética é um processo natural, responsável por formar as diferentes células do nosso corpo. Influências ambientais, porém, também podem ter efeitos epigenéticos. Dieta, exposição a poluentes, radioatividade, hormônios e outras substâncias, como o álcool, podem alterar a maneira como os genes funcionam, sem necessariamente alterar o DNA. Quando essas mudanças são passadas de uma célula para outra pelo processo de divisão celular são chamadas de mudanças epigenéticas.

Alterações epigenéticas

Alterações epigenéticas podem ter efeitos positivos ou negativos. Mudar a forma como um gene funciona pode causar distúrbios genéticos, por exemplo. De acordo com um artigo publicado no periódico científico Environmental Health Perspectives, algumas doenças, comportamentos e indicadores de saúde podem estar relacionados à epigenética. 

Os cientistas verificaram que influências ambientais como estresse ou exposição a metais pesados, pesticidas, escapamento de diesel, fumaça de tabaco, hormônios, radioatividade, vírus e bactérias poderiam levar a mudanças epigenéticas relacionadas ao desenvolvimento de câncer, disfunções cognitivas, doenças respiratórias, cardiovasculares, reprodutivas, autoimunes e neurocomportamentais.

Fatores ambientais, como fumaça de tabaco, metais pesados, pesticidas, escapamento de diesel, álcool, entre outros, podem levar a alterações no padrão de funcionamento dos genes.
Fatores ambientais, como fumaça de tabaco, metais pesados, pesticidas, escapamento de diesel, álcool, entre outros, podem levar a alterações no padrão de funcionamento dos genes.

Um estudo mostrou também que crianças nascidas entre os anos de 1944 e 1945 na Holanda, quando o país sofreu um bloqueio no fornecimento de alimentos devido à 2a Guerra Mundial, tiveram maiores índices de doenças do coração e obesidade quando suas mães sofriam de fome durante a gravidez. Outra pesquisa revelou ainda que adultos cujas mães passaram fome no processo de gestação tinham chances maiores de desenvolver esquizofrenia.

Epigenética a nosso favor

Se alterações epigenéticas podem ser a causa de diversos problemas, elas talvez possam ser também a solução. Muitos estudos buscam analisar os efeitos positivos que fatores como uma alimentação saudável podem ter nos genes. 

Além disso, se comprovarmos que algumas condições são causadas por efeitos epigenéticos, talvez a cura ou o tratamento para essas mesmas doenças possam ser buscadas por estudos da área. Atualmente, por exemplo, há pesquisas que tentam encontrar tratamentos epigenéticos para alguns tipos de câncer e transtornos neurocomportamentais, como a esquizofrenia.

Como a epigenética ainda é uma área relativamente recente, os estudos estão em fases iniciais e sua aplicação prática na Medicina pode demorar um pouquinho para chegar até nós. Mas muitos resultados são promissores e indicam que, no futuro, o conhecimento mais aprofundado de como o ambiente afeta nossos genes poderá nos ajudar a viver mais e melhor.

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