O que é terapia gênica?
Quem nunca pensou o quão bom seria poder mudar o seu DNA para evitar ou curar uma doença? Todos nós e os cientistas também. A habilidade de modificar o genoma tem sido um dos objetivos da Medicina desde as ervilhas de Mendel.
Com a terapia gênica, realizada pela primeira vez nos anos 80, finalmente conseguimos esse feito.
A terapia gênica é uma técnica utilizada para tratar doenças genéticas que envolve a substituição de genes defeituosos por genes saudáveis. É um método artificial em que o DNA saudável é introduzido nas células do corpo ou o DNA defeituoso é corrigido.
Em outras palavras, em vez de tomar um remédio que trata a dor de cabeça, você alteraria o gene que promove a dor de cabeça.
A terapia gênica pode ser realizada de duas formas:
- Ex vivo (fora do corpo): as células defeituosas são removidas, o DNA delas é alterado e então as células modificadas são devolvidas para o organismo da pessoa.
- In vivo (dentro do corpo): um DNA saudável é inserido na corrente sanguínea ou diretamente em um órgão específico da pessoa.

Na última década, a terapia gênica tornou-se uma realidade para múltiplas doenças, principalmente aquelas causadas por mutações em um único gene, como a anemia falciforme.
O que é anemia falciforme?
A anemia falciforme, também conhecida como drepanocitose ou doença falciforme, é uma das doenças genéticas mais comuns no Brasil, ocorrendo, principalmente, em pessoas de ancestralidade africana. A detecção precoce da anemia falciforme é tão importante que ela é uma das doenças triadas ao nascimento no Teste do Pezinho.
A anemia falciforme é uma doença genética do sangue em que as hemácias (glóbulos vermelhos) possuem um formato anormal de foice (por isso o nome “falciforme” – formato de foice), o que faz com que sua membrana seja frágil e se rompa mais facilmente, causando anemia e diminuindo o transporte de oxigênio aos órgãos e tecidos.
Além de serem mais frágeis, as hemácias falciformes também são rígidas e por isso possuem maior dificuldade de passar pelos vasos sanguíneos, podendo bloqueá-los, interrompendo o fluxo de sangue, e causar sérias complicações médicas, incluindo dores muito fortes e danos a órgãos.

Qual é a causa da anemia falciforme? A anemia falciforme é causada por mutações no gene da hemoglobina, chamado HBB. A hemoglobina é formada por quatro subunidades: um par de alfa-globina e um par de beta-globina. O gene HBB produz a beta-globina, mas quando está mutado produz versões anormais da beta-globina, como a hemoglobina S (HbS), que causa a anemia falciforme.Para nascer com a anemia falciforme, é preciso herdar as duas cópias do gene HBB alteradas (HbSS), uma cópia da mãe e uma cópia do pai. Quando a pessoa herda apenas uma cópia da mutação HbS (do pai ou da mãe), ela é chamada de portadora do Traço Falciforme. Nesses casos, ela não tem a doença, mas pode transmitir a mutação para seus filhos. |
Tratamentos atuais para a anemia falciforme
Para a maioria das pessoas com anemia falciforme, o tratamento é realizado com foco em diminuir os sintomas: controlar a anemia, prevenir as crises de dor e reduzir lesões nos órgãos. Esse tratamento é realizado através de medicamentos orais e transfusões sanguíneas.
Em alguns casos é possível realizar o transplante de medula óssea ou transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH): o único tratamento capaz de curar a anemia falciforme.
No transplante de medula óssea, as células-tronco hematopoiéticas de um paciente são retiradas e substituídas por células-tronco saudáveis de um doador.
Células-tronco são células que surgem durante o desenvolvimento embrionário e são responsáveis pela renovação dos tecidos e dos órgãos. As células-tronco hematopoéticas (hemato = sangue, poiesis = fazer) são produzidas na medula óssea e no cordão umbilical e possuem a capacidade de se diferenciar em todas as células maduras que circulam no sangue: hemácias, glóbulos brancos e plaquetas. |
O transplante de medula óssea para anemia falciforme é tão eficaz que em 2015 foi incluído no Sistema Único de Saúde (SUS). Seria perfeito se não fosse um detalhe importante: para poder realizar o transplante é preciso encontrar um doador compatível. Um desafio bastante limitante que faz com que somente 10 a 15% das pessoas com anemia falciforme consigam realizar o transplante com sucesso.
Como a terapia gênica ajuda no tratamento de anemia falciforme?
Com a grande dificuldade de encontrar doadores compatíveis para o transplante de medula óssea, a terapia gênica é a esperança de tratamento e cura da anemia falciforme.
Diversos grupos de pesquisa pelo mundo, incluindo no Brasil, vêm testando diferentes formas de usar terapia gênica para curar a anemia falciforme.
Uma forma é através do transplante autólogo, no qual as células-tronco da pessoa com anemia falciforme são coletadas e modificadas geneticamente em laboratório (corrigindo a mutação que causa a doença ou inserindo um gene novo sem a mutação) e depois são reinseridas no organismo dela. Com o tempo, as células corrigidas irão se multiplicar e produzir hemácias com hemoglobinas normais que não causam a doença.

Uma das formas para alterar o DNA das células-tronco usada pelos cientistas é através do CRISPR, um método simples e revolucionário de editar os genes.
Espera-se que no futuro a terapia gênica possa ser a cura para muitas outras doenças raras, como a fenilcetonúria e mucopolissacaridoses.
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O que é a terapia gênica e como funciona?
A terapia gênica é uma técnica utilizada para tratar doenças genéticas que envolve a substituição de genes defeituosos por genes saudáveis. Na terapia gênica um DNA sem mutação é introduzido nas células do corpo ou o DNA defeituoso é corrigido.
Quais são os tipos de terapia gênica?
A terapia gênica pode ser in vivo ou ex vivo. Na in vivo a alteração do gene é feita dentro da pessoa. Na ex vivo as células da pessoa são retiradas, o gene é alterado no laboratório e depois as células são reinseridas na pessoa.
Qual é o princípio básico da terapia gênica?
O princípio básico da terapia gênica é tratar (corrigindo ou silenciando) o gene defeituoso que está causando a doença. Por isso, é preciso que a causa da doença seja uma mutação genética.
Exemplos de terapia gênica
A terapia gênica pode ser somática, realizada nas células somáticas, ou germinativa, realizada nos óvulos ou espermatozoides. A terapia gênica pode ser usada para tratar câncer e diversas doenças monogênicas.