Pode ser que você não tome café, ou pode ser que você tome várias canecas de café por dia. Pode ser que você adore pão, queijo e salada, ou que não coma esses alimentos de jeito nenhum. A preferência e a quantidade de consumo alimentar, podem ser explicados, em parte, pelo DNA.
Os genes podem influenciar nosso interesse em consumir um alimento através do paladar, de mecanismos cerebrais que geram necessidade de alguns nutrientes e também do metabolismo.
Em alguns casos, no que é chamada de herança mendeliana, basta uma variação genética para que haja uma preferência ou sensibilidade a um sabor. Porém, a maioria das nossas características, incluindo nossos hábitos alimentares, possuem um padrão de herança poligênica, ou seja, são influenciadas por um conjunto de genes.
Além da genética, a quantidade e o tipo de alimento que consumimos é influenciada por muitos outros fatores, como cultura, religiões, ideais, doenças, renda, estrutura familiar (por exemplo se a pessoa é solteira, casada ou tem filhos) e idade.
Entenda mais a seguir como o DNA influencia na preferência e no consumo alimentar.
Paladar
Somos capazes de sentir 5 diferentes gostos: doce, salgado, azedo, amargo e umami (sabor presente em alguns alimentos, como carnes, cogumelos e queijo parmesão, que harmoniza e realça os outros sabores da refeição). A nossa percepção de sabor se forma a partir de sentidos como gosto e cheiro, mas existem variações genéticas que alteram os receptores desses sentidos.
Comidas amargas
Substâncias tóxicas e venenos muitas vezes são amargos, e por isso foi (e ainda é) uma vantagem evolutiva perceber o sabor amargo dos alimentos, já que ao sentir esse gosto, nosso cérebro interpreta como um sabor desagradável e evitamos ingerir esses alimentos.
Por outro lado, muitos alimentos amargos são apropriados para o consumo e cheios de nutrientes benéficos à saúde, por isso, pessoas que não percebem o amargor tão intensamente conseguem comê-los facilmente.
Cientistas descobriram porque nem todo mundo sente o gosto amargo da mesma maneira: variações no gene TAS2R38 alteram o receptor de gosto amargo, fazendo com que sejam sensíveis ou não a uma molécula chamada PTC (feniltiocarbamida).
Alguns vegetais crus, como brócolis e couve de bruxelas, possuem moléculas similares ao PTC e as diferenças genéticas na percepção do gosto amargo poderiam explicar porque algumas pessoas gostam desses vegetais enquanto outras não gostam.
Supertaster Os supertasters (superdesgustadores, em português) são pessoas que percebem sabores mais intensamente, incluindo uma alta sensibilidade ao sabor amargo, porque tem mais papilas gustativas. Outras percepções também podem ser mais intensas para os supertasters, como o ardor da pimenta e a textura de comidas gordurosas. As preferências alimentares dos supertasters são diferentes das outras pessoas e, claro, impactam também sua saúde. Os supertasters possuem baixo risco cardiovascular, uma vez que as refeições mais escolhidas contém baixo teor de gordura e são mais doces, mas possuem alto risco de câncer colorretal, já que consomem poucos vegetais. |
Coentro
Outro alimento que causa discórdia é o coentro, pois algumas pessoas sentem um gosto desagradável, parecido com sabão. Essa erva possui muitos compostos chamados de aldeídos, que também estão presentes em produtos de limpeza. Um estudo descobriu uma variação genética, próxima ao gene de um receptor olfativo, que está associada à capacidade de uma pessoa sentir o sabor desagradável do coentro, provavelmente por realçar a percepção dos aldeídos.
Preferência por doces
As nossas preferências alimentares não são apenas para evitar sabores ruins, são direcionadas também para consumir alimentos que contêm gordura e açúcar.
Quando consumimos alimentos com açúcar, o sistema de recompensa do cérebro é ativado, sendo uma grande adaptação evolutiva, já que esse nutriente é a nossa fonte primária de energia.
Variações no gene PTPRN2 já foram associadas à preferência por alimentos doces, mas o mecanismo de ação ainda não foi totalmente esclarecido. Em organismos modelo, alterações nesse gene diminuíram a produção de insulina e de neurotransmissores, afetando o aprendizado e o comportamento dos animais.
Já a sensibilidade ao gosto doce está associada a variações nos genes que produzem os receptores de açúcar, chamados de T1R, que ficam nas células das papilas gustativas.
Formando o paladar Estudos indicam que uma alimentação variada e saudável da mãe durante a gestação expõe o bebê a novos e diferentes sabores através do líquido amniótico. Depois do nascimento, essa exposição acontece através do leite materno durante a amamentação e, em seguida, através da introdução alimentar. Os pesquisadores sugerem que a exposição desde cedo a diferentes sabores, aumenta as chances das crianças serem mais abertas a experimentar novos alimentos. |
Mecanismos cerebrais
Algumas regiões do cérebro possuem um papel crucial no controle do apetite e do gasto energético. Hormônios e nutrientes são responsáveis por fazer a sinalização ao cérebro: um dos mecanismos mais conhecidos é o sinal dado pelo hormônio leptina, que é secretado pelas células de gordura do corpo e reconhecido no cérebro como um indicador de saciedade.
Mutações no gene que produz a leptina estão associadas à fome extrema e à obesidade monogênica.
Os mecanismos cerebrais também podem explicar porque algumas pessoas preferem alimentos ricos em gordura, proteína ou carboidrato: existe um conjunto de genes, que se expressam em tipos específicos de neurônios e algumas regiões do cérebro, mostrando que mecanismos cerebrais estão envolvidos no tipo de nutriente consumido.
Entender os fatores que influenciam os hábitos alimentares têm grande importância para a saúde, já que dietas ricas em algum tipo de nutriente podem estar relacionadas com doenças como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.

Metabolismo
O metabolismo é o conjunto de processos que transformam as substâncias dentro do organismo. O DNA pode influenciar em como as substâncias são metabolizadas, resultando em um maior ou menor consumo de alguns alimentos.
Café
O consumo de café e até a preferência pelo tipo do café, se puro, adoçado ou com leite, parece estar mais relacionado ao metabolismo da cafeína do que ao sabor amargo da bebida. O efeito estimulante passa mais rapidamente nas pessoas que possuem um metabolismo mais rápido de cafeína e, por isso, elas precisam beber mais café.
Os estudos também mostram que a preferência por café preto ou chá se deve a uma curva de aprendizagem, pois essas pessoas associam o gosto amargo com o efeito estimulante da cafeína, ou seja, a relação entre sabor e efeitos estimulantes da cafeína acabam influenciando, em conjunto, o consumo de café.
Efeitos do café A cafeína está presente em diversas plantas que dão origem a bebidas e alimentos, como Camellia sinensis (chá), erva mate, café, cacau, noz de cola e fruto do guaraná. Após a sua metabolização, no fígado, a cafeína tem efeitos cognitivos, promovendo maior concentração, energia, memória e capacidade executiva. Porém, também pode causar efeitos adversos, como palpitações, tremores e alterações gastrointestinais. |
Álcool
As diferenças genéticas que aumentam ou diminuem o consumo de álcool e as que predispõem ao alcoolismo estão bastante associadas à metabolização dessa substância, resultando em diferenças, por exemplo, nas enzimas que processam o álcool no fígado e na sensibilidade cerebral aos efeitos do álcool.
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Os genes podem influenciar nosso interesse em consumir um alimento através, por exemplo, do paladar, de mecanismos cerebrais que geram necessidade de alguns nutrientes e também do metabolismo.
O consumo de café parece estar associado ao metabolismo da cafeína: o efeito estimulante passa mais rapidamente nas pessoas que possuem um metabolismo mais rápido de cafeína e, por isso, elas precisam beber mais café.
Há diferenças genéticas que aumentam ou diminuem o consumo de álcool e até a predisposição ao alcoolismo. Essas variações genéticas estão associadas à metabolização da substância e à sensibilidade aos efeitos do álcool.